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“Se” ou “quando” eu, a Mata Atlântica, estiver extinta infelizmente, tenha consciência de que todas aquelas árvores, plantas, flores, animais do céu, da terra e dos rios sobre os quais já te contei, irão comigo. Esses novos Sapiens pouco sabidos não percebem que eles talvez sejam os próximos. Mas vamos voltar à minha história, que é também a sua.

Esses novos Sapiens iam e vinham, eram poucos e não passavam muito tempo comigo, mas foi por essa época que comecei a sentir as primeiras dores, quando me amputaram as árvores Pau-Brasil. Foram tantas que me acostumei com a dor, que ficou crônica. Com o tempo a dor cessou e me restaram os cotocos de árvore, minhas novas cicatrizes.

 

 

Passei por muita coisa.

E alguns anos depois veio algo mais terrível: já não me arrancavam somente o Pau Brasil, mas tudo que fosse possível, arrancavam todas as minhas árvores. Fui ficando pelada das minhas árvores, só com cotocos-cicatrizes. O que sobrava, queimavam sem consciência, para abrir espaço e aqueles poucos Sapiens do início foram se fixando e aos poucos se tornando muitos.

 

Passei por muita coisa.

Teve então aquela época em que me queimaram sem dó nem consideração, me deixando em carne viva com a terra exposta e revirada e me plantaram cana de açúcar. Nunca tinha visto essa planta antes. A trouxeram não sei de onde. Só sei que de repente essa coisa se alastrou por cima de mim, mas nem essa cobertura me deixavam. Vira e mexe, arrancavam, tacavam fogo e começavam tudo de novo. Não sei como aguentei nessa época. Mas sobrevivi. Sobrevivi para verem fazer a mesma coisa me plantando café e outras coisas que eu nunca tinha visto.

Esse tratamento foi me consumindo, deteriorando muito a minha saúde à medida que faziam isso tudo em áreas minhas cada vez maiores. Aquela dor que era mais localizada no início, se alastrou. Fiquei coberta de feridas e cicatrizes. Você já sentiu o que é perder tudo o que te define?

Passei por muita coisa.

Hoje poucas partes de mim ainda possuem vida pujante. Se você olhar para mim agora não terá ideia do que já fui. Terá uma pálida ideia a partir de desenhos de viajantes de séculos passados, gravuras antigas de museu ou descrições do boca a boca dos antigos. Mas você não saberá como era estar comigo, embaixo das copas das minhas árvores que chegavam a 40 metros de altura. Não saberá como era estar ao lado dos troncos das minhas árvores, troncos maiores que a sua casa. Você não saberá, nem ninguém depois de você. A ideia de extinção é muito ruim. Não é somente uma morte. É a morte do futuro. Você está pronto para agir agora?

 


Apesar da devastação que parecia irreversível, a natureza tem uma resiliência surpreendente. Continue lendo a Parte 3 para descobrir a jornada de recuperação e como a Mata Atlântica está encontrando seu caminho de volta à vida.