O Esplendor de Uma Era Intocada

Estavam todas ali misturadas e coexistindo. Se você parasse e olhasse com atenção enxergaria minhas bromélias trepadas nas árvores, begônias, musgos, samambaias, e muitas flores coloridas, como a exuberante primavera, ou bougainville, como também é conhecida em homenagem a um tal de Louis Antoine de Bougainville que levou o mundo a conhecê-la. Muito famosinha essa daí, símbolo da beleza que persiste.

Levantando seu olhar para o céu, nas copas das minhas árvores se viam macacos-prego, lânguidas preguiças, pequenas cuícas, todo esse povo que gosta de ver o mundo de cima. Mas tinham também aqueles que preferiam manter o pé no chão, como o porco do mato, o furão, o ouriço-cacheiro, o cachorro do mato, o mão-pelada, o tamanduá de colete, a paca, a cutia, os gatos do mato. Havia os que gostavam de estar com a cabeça nas nuvens, como os tucanos-de-bico-preto, os gaviões, o papagainho, a jacupemba e muitas espécies de morcegos. E os meus frutos? Ninguém passava fome. Tinham os meus cajus, mangabas, pitangas, abacaxi, maracujá, uvaia, cambuci, abiu! Já comeu abiu? Parece um leite condensado, só que muito mais gostoso.

Outros moradores menos populares, mas importantes, eram as serpentes, a cobra de vidro, a jararaca e a jiboia, e também moluscos, anelídeos e o caranguejo de rio. Esse último se via em grandes quantidades nos meus muitos rios. Devo dizer que eram muitos rios, lagoas e baías, mas aqui nesse meu pedaço de chão em Silva Jardim o rio mais famoso é o São João!

Outros que são muitos são os meus insetos. Você pensou em mosquitos, mas me refiro às inúmeras borboletas azuis, os serra-paus, as saúvas e os simpáticos louva-a-deus. Cada um com sua responsabilidade no enorme mosaico de diversidade que no fundo é o que eu sou. Cada um ocupando seu espaço, interagindo, fazendo fluir a vida.

Todos juntos me ajudaram a me tornar quem eu sou, ou, melhor dizendo… quem eu era há 500 anos.

A Harmonia Entre Espécies e o Primeiro Sinal de Mudança

Além das árvores, plantas, flores e moradores que já mencionei tinha também um tipo de Homo Sapiens. Não eram muitos, mas eram mais sabidos que os outros bichos. Às vezes, se fosse necessário, subiam nas árvores como o macaco-prego, também se davam bem na água e costumavam pescar, mas a maior parte do tempo estavam mesmo é com os pés no chão. Sinto que me respeitavam, me entendiam. O fato é que convivemos bem durante milhares de anos.

 

Passei por muita coisa.

E as coisas começaram a mudar mesmo depois que chegaram outros tipos de Homo Sapiens. Depois que esses novos sapiens chegaram (vou chamá-los assim, pois que são novos para mim, que nunca os tinha visto), algumas coisas começaram a mudar, lenta e inexoravelmente.


Continue lendo na Parte 2 para descobrir como a chegada desses novos Homo Sapiens transformou a minha existência e o que isso significou para o futuro de todos nós.